Posts Tagged ‘educação

22
Abr
10

Guilty as charged

Diz o Daniel Oliveira num post intitulado “A minha escola” :

Todos temos uma reforma da educação na cabeça e com ela uma escola ideal. Aquela onde gostaríamos de ter estudado. Os professores ficam doentes com esta especialização democrática. É o preço que pagam por terem escolhido trabalhar numa área que nos diz respeito a todos.

Não é o melhor começo, pelo menos para professores, escaldados que estamos com tanta generalização abusiva e comentaristas iluminados, mas vale a pena ler o resto porque é uma boa reflexão sobre a escola. Aliás, nisso o Daniel nunca desilude: pode nem sempre concordar-se com as ideias, mas são sempre estimulantes e convictas.

Eu, pela parte que me toca, até gostaria de ver a participação das pessoas nas escolas aumentada em 1000%, seja enquanto encarregados de educação, membros activos da comunidade ou voluntários para tarefas de que a escola carece. A fazer coisas. A contribuir para melhorar as coisas. A colaborar para tornar a escola melhor. Confesso-me pecador, porque fico de facto doente com a imensidão de treinadores de bancada que falam, falam… na maior parte dos casos à toa, dizendo os maiores disparates com a maior presunção. Como os que querem resolver os problemas da escola de hoje regressando à escola do passado. Fosse a vida uma ficção, e o castigo justo seria terem que voltar a essa escola e andar por lá uns anos, a ver o que era assim tão bom. Ou os seus antípodas, que olham para os problemas com lentes cor de rosa e acham que tudo se resolve com muita conversa fiada e que os meninos coitadinhos. Para esses, bastaria um banho de realidade (um ano a dar aulas numa escola complicada, por exemplo) para transformar anjinhos em demónios insuportáveis.

Também gostaria de ver uma escola aberta às pessoas. Não sendo hipocondríaco, também fico doente com uma escola feita de muros, em que os pais são geralmente mal recebidos, e a que só são chamados, na maior parte das vezes, para lhes dizerem que os filhos se portaram mal. A segurança e o controlo de entradas e saídas são fundamentais, certamente, mas fora esse escrutínio zeloso e competente, as pessoas que têm uma relação com a escola deviam sentir-se bem vindas e ter oportunidades de participar na sua vida de formas produtivas. E tanto quanto sei, este não é o caso na maioria das escolas.

A escola ideal que o Daniel Oliveira refere é um bom modelo de escola. E difícil de concretizar, sobretudo nas escolas públicas que, como o próprio aponta, não podem utilizar os mecanismos de selecção e de intervenção de que dispõem a escolas privadas. Mais a mais se a profissão docente e as circunstâncias em que ela se desenvolve são tão maltratadas como têm sido.

Há muita coisa a mudar na escola, desde aspectos organizacionais e curriculares, a outros mais de natureza cultural e identitária. La Palissimamente dizendo, estamos a formar cidadãos do século XXI usando um modelo organizacional de escola que não se alterou significativamente desde o século XIX. Mas também há muita coisa a mudar na forma como um número considerável de pessoas olha para a escola, na importância que lhe atribui, na disponibilidade que tem para assumir a sua quota parte de responsabilidade na educação dos seus filhos e, quando é caso disso, para colaborar com a escola numa missão que deve ser comum. Porque, em boa verdade, o que muita gente faz é mandar bocas e juntar-se ao bota abaixo mas, quando chega a hora de fazer alguma coisa, assobia para o ar e tem sempre mais que fazer.

21
Dez
09

Bem dito

Um post do Pedro Neto que vale muito a pena ler. Também é sobre a essência de ser professor, mas é sobretudo sobre a essência de ser humano.

16
Dez
08

Vale tudo

1. A ministra da educação serve-se dos emails da DGRHE e das DREs para antecipar a publicação dos diplomas legais no Diário da República. É uma forma de quase terrorismo político que tem como objectivo bombardear os professores com produção legislativa contraditória e criada a um ritmo tão rápido que não dá tempo aos docentes para reflectirem sobre os decretos-leis, decretos regulamentares, despachos e portarias. A estratégia destina-se a esmagar e a ajoelhar os professores.

2. Ainda antes de os diplomas serem aprovados na reunião do Conselho de Ministros já os mesmos circulam pelas escolas, como se não carecessem de publicação no DR, graças aos emails do Gabinete da Ministra, da DGRHE e das DREs.

via ProfAvaliação: O simplex2 ainda não existe. 6 razões que mostram que a luta dos docentes não é só contra o modelo burocrático e a desfiguração da profissão.

É escandaloso, mas consistente com a mescla “sovieto-chávez” que tem sido a actuação do governo e deste triste ministério que temos. Vale a pena ler o post na íntegra.

02
Dez
08

Maria Regina Rocha sobre a avaliação do desempenho

Excelente texto  de Maria Regina Rocha no De Rerum Natura sobre a avaliação do desempenho dos professores, o porquê do Ministério querer à força e de qualquer maneira aplicar este modelo, a mentira repetida de que não havia avaliação, ou as circunstâncias em que os docentes acedem à profissão e a desenvolvem no seio das escolas.

(…) É que fazer crer à opinião pública que os males do ensino residem na actuação dos professores e no facto de nunca terem sido avaliados segundo este modelo revela, no mínimo, ignorância, no máximo, má fé.

E isto por dois motivos: os grandes factores que influenciam os resultados dos alunos (sensivelmente 60%) não são controláveis pela escola (essencialmente aspectos pessoais e sócio-económicos) e, dos restantes, ou seja, os factores inerentes ao sistema educativo, os professores não são responsáveis por aqueles que são determinantes, ou seja, os currículos, os programas e o tipo de formação pedagógica e didáctica que lhes é proporcionada: não esqueçamos que os professores cumprem os programas e directrizes da tutela e dos órgãos de gestão (escrupulosamente, senão têm de o justificar).

Assim, com verdade e serenidade, não misturemos avaliação dos professores, progressão na carreira e política salarial do governo com o que está mal no Ensino em Portugal e como resolvê-lo.

Vale a pena ler o texto completo.

29
Nov
08

Uma boa base para a avaliação de professores

No Postal, do RC, uma excelente proposta com muitos dos bons caminhos por onde devia passar uma avaliação séria dos professores.

Quando é que os inúmeros comentadores que se fartam de falar da carreira e da avaliação de professores sem disso nada saberem percebem estes factos simples?

a) Só faz sentido ser-se avaliado por alguém que não saiba menos do que nós.

b) A divisão da carreira em titulares e não titulares é injustificada, sem fundamento, e foi aplicada de modo totalmente inaceitável.

c) Os especialistas em recursos humanos podem ter muitas coisas de interesse a dizer quanto à avaliação dos aspectos processuais, administrativos e burocráticos de pessoas e instituições, mas quando toca a avaliar desempenhos profissionais com conteúdos científicos e técnicos próprios deviam ter a humildade de ficar calados e deixar falar quem sabe desses assuntos.

d) Os jornalistas deviam ter maior preocupação em informar-se de forma adequada, através da sua própria investigação, sobre os temas que tratam, em especial quando fazem entrevistas de fundo ou decidem extravasar do seu papel e dar opiniões. É que ouvir ou ler as inanidades (e o abanar de cauda servil) de algumas perguntas feitas em entrevistas ou os textos de Fernando Madrinha ou Henrique Monteiro sobre Educação é deprimente.

27
Nov
08

Clube de Imprensa 26-11-2008

Apresentado por Maria Elisa, com a participação de Veiga Simão, Filomena Mónica e Nuno Crato. Não é que se digam apenas coisas boas e acertadas, mas é um outro nível de discussão que merecia bem mais exposição mediática do que o medíocre Prós e Contras.

clube_de_imprensa

17
Abr
08

Para quem tenha dúvidas

Para quem tenha dúvidas sobre o que este entendacordo significa para o ME, basta ouver (obrigado José Duarte) a Ministra da Educação no acto de assinatura do dito. Como sempre faz quando fala a propósito seja do que for, lá veio o desfiar da longa lista de realizações do Ministério, sem critério de relevância ou oportunidade, como se tudo fosse a mesma coisa e uma só coisa indivisível. Depois, lá mais para o fim, e ainda como de costume, o repetir de outra mentira tantas vezes esgrimida, alicerce desta estratégia de desinformação e intoxicação da opinião pública levada a cabo pelo ME: agora, diz Maria de Lurdes Rodrigues, os professores trabalham muito mais horas com os alunos na escola. NÃO É VERDADE! Agora, os professores passam mais horas na escola, mas não é a trabalhar com os alunos, porque estes têm aulas, regulares ou de substituição. São horas de estacionamento improdutivas, a realizar trabalho burocrático maioritariamente inútil, ou a tentar fazer alguma coisa em condições muito inferiores às de qualquer escriturário – más cadeiras, tecnologia muitas vezes deficiente (quando não inexistente), salas gélidas ou tórridas, etc., em espaços que não foram pensados nem desenhados para terem pessoas a trabalhar durante várias horas. Se quiserem dizer que os professores agora comunicam muito mais entre si, porque passam mais horas juntos na sala dos professores, nas salas de trabalho ou no bar, a isso não me oponho.

E que dizer deste abanar de cauda da Plataforma Sindical? Eles que estavam totalmente fora desta carroça, porque o ME nem sequer se dignava a conversar com eles, apanharam o comboio dos 100.000 e agora podem fingir, outra vez, que são importantes e lideram os professores, mesmo se para conseguir isso enfraquecem brutalmente as posições dos mesmos professores que dizem defender. Como não ver oportunismo politico nesta decisão, sobretudo se atentarmos no estilo: “a esmagadora maioria dos professores apoia este entendimento”; “mais de 90% dos professores apoiam este entendimento”. BS, da grossa. Estamos outra vez, no campo da estratégia política e da demagogia; os princípios e os valores já nem se vêem no horizonte. Como irão agora os professores enfrentar o que realmente importa – o ECD e este modelo de avaliação? Com que energia, com que consenso, com que força?

Digam o que disserem, há anos que acho o mesmo: sindicatos dos professores sim, para questões salariais, contratuais, etc. Mas para o resto, precisamos é de uma Ordem dos Professores que nos represente condignamente, que institua princípios que regulem a profissão, que decida quanto a questões de entrada na carreira, estatuto, perfil, etc., e que se oriente para as questões da ética e do exercício profissional, longe das politiquices e dos interesses do momento.

16
Abr
08

O que dizer?

O país entra em alvoroço por causa de um acto de indisciplina, trazendo à cena uma série de personalidades, incluindo nem mais nem menos que o Procurador Geral da República, clamando a miséria da escola e da civilidade dos alunos. Mas assobia para o ar quando o Presidente de um governo regional chama à oposição na Assembleia Legislativa “um bando de loucos”, dizendo, em tom chocarreiro (como é hábito), que seria uma vergonha para a Madeira e uma desgraça para o turismo realizar-se a dita sessão solene com o Presidente da República em visita ao arquipélago. O próprio Presidente, em vez de tomar uma atitude, lá cumpre mansamente a visita e fala do tempo. Fantástico.

Inquirido por Judite Sousa sobre esta coisa estranha de um Presidente de um governo regional insultar a Assembleia Legislativa, órgão perante o qual responde o seu governo (e ele próprio) em termos institucionais, essa grande personalidade dos bastidores do PS, António Vitorino, responde com candura que, enfim, hoje em dia os governos têm uma acção executiva e de liderança, pelo que essa relação institucional é apenas uma ficção; convém é, segundo ele, manter as aparências.

Após o anúncio de um entendimento entre o Ministério da Educação e a Plataforma Sindical, o primeiro ministro diz, em directo e sorridente, que é um grande avanço, pois ao fim de 30 anos vamos ter o que nunca tivemos: avaliação de professores. O ME afina pela mesma nota, insistindo nesta grande inovação que é a avaliação de professores. Isto é mentira, da grossa, e eles sabem que é mentira, e no entanto não se cansam de repeti-lo. Em 1998, quando saiu o decreto que, na última década, regulamentou a avaliação dos docentes da educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário, José Sócrates era ministro no governo de António Guterres. Pode dizer-se que a avaliação era ineficiente, que havia problemas de aplicação real, que era necessária mais supervisão/inspecção externa dos processos, que era preciso restringir o acesso ao topo da carreira a apenas uma percentagem dos professores, etc., agora dizer-se que não existia? E dizer-se que o que querem impor é o que se faz por essa Europa fora, apesar das várias reportagens que dão conta de como os sistemas europeus de avaliação de professores têm muito pouco a ver com o disparate que este ME quer instituir? Ao que dizem, ele é bem mais parecido com o que se faz por terras chilenas…

Claro que, falhos de ética e descontraidamente desinformados, como de costume, os muitos comentadores de ocasião que povoam os nossos media vão repetindo estas e outras grosseiras mentiras como se fossem a mais pura realidade, Assim o fez pouco depois na realidade em directo outra grande figura da nossa praça, o muito bemzoca Pedro Ferraz da Costa, mais do que capacitado para opinar sobre educação porque lhe fazem perguntas sobre isso. Também ele acha que haver finalmente avaliação de professores é óptimo porque a nossa educação é uma miséria. Como é que ele sabe? Ora, não é o que diz muita gente, incluindo o governo?

Com estes exemplos de ética, princípios e honestidade intelectual, bem se vê como não podemos deixar de ser extremamente exigentes com as nossas crianças e adolescentes, para que quando cresçam sejam assim também cidadãos exemplares. Ou saibam manter as aparências.

P.S. Para as memórias curtas ou distorcidas de ideologia, fica o decreto regulamentar 11/98. Atente-se, sobretudo, no anexo 1 – páginas 7 e 8 – que define os critérios a respeitar pela avaliação dos docentes.

Ler no SCRIBD.

28
Mar
08

Ajuda a pensar a escola hoje

Universal education through schooling is not feasible. It would be no more feasible if it were attempted by means of alternative institutions built on the style of present schools. Neither new attitudes of teachers toward their pupils nor the proliferation of educational hardware or software (in classroom or bedroom), nor finally the attempt to expand the pedagogue’s responsibility until it engulfs his pupils’ lifetimes will deliver universal education. The current search for new educational funnels must be reversed into the search for their institutional inverse: educational webs which heighten the opportunity for each one to transform each moment of his living into one of learning, sharing, and caring. We hope to contribute concepts needed by those who conduct such counterfoil research on education—and also to those who seek alternatives to other established service industries.

Isto dizia Ivan Illich em 1970, em Deschooling Society. Tão actual como se o tivesse dito hoje: as “redes educacionais” fazem lembrar muito as “personal learning networks” ou os “personal learning environments” de que agora se fala tanto na educação/formação online (OK, não tanto cá pelo burgo); esta noção da aprendizagem como um processo contínuo e global, que atravessa contextos formais e não-formais, embebido na própria vida das pessoas, em que as experiências se traduzem em learning, sharing and caring.

Por mim, acho boa ideia ter uma escola onde as crianças e jovens passem uma parte do dia, se encontrem e socializem, partilhem a experiência essencial do mundo físico. Mas mais uma escola de ateliers e workshops do que de aulas tradicionais; mais para indivíduos e os seus interesses e competências do que para a abstracção e arbitrariedade que é uma turma; mais um espaço de saber e cultura ao serviço dos alunos do que um espaço de treinamento e formatação ao serviço das empresas e dos interesses económicos ou outros. Com os meios tecnológicos e o acesso fácil a informação de qualidade que hoje temos, é altura de começar a pensar noutra escola que substitua este cadáver que persiste força do hábito e da tradição. Sejamos claros e lúcidos: a escola que temos desenrasca, mas está longe de ser a escola que precisamos para os tempos que correm e os que se avizinham no futuro.

28
Mar
08

O excesso de informação e o trabalho do professor

Significant attainments become lost in the mass of the inconsequential

Dizia Vannevar Bush no seu famoso ensaio de 1945, As we may think, onde se fala do Memex (ou memory extender), a fonte de onde dizem ter-se inspirado muita da tecnologia e da concepção de organização do conhecimento que temos hoje (hipertexto, Internet, conhecimento em rede, etc.).

Num mundo saturado de informação, que pode ser convocada a partir de diversos suportes e, em alguns casos, de forma quase imediata, o trabalho do professor não pode mesmo ser o de papaguear o que já está dito e redito em profusão, antes ensinar a ver o que é essencial e significativo, modelar formas de interligar (relacionar) a informação e pensá-la criticamente, de maneira a construir conhecimento e a torná-la disponível para ser utilizada, pelo sujeito, no mundo real.




Maio 2024
S T Q Q S S D
 12345
6789101112
13141516171819
20212223242526
2728293031