25
Maio
12

Os Maridos das outras

Muito bom. Creio que esta música se vai tornar um hino para momentos bem dispostos.

01
Mar
11

The Story of Citizens United v. FEC (2011)

Mais uma excelente produção do The Story of Stuff Project, de Annie Leonard. Esta aborda o financiamento das campanhas eleitorais americanas e a forma como a democracia vai sendo pervertida pelo poder das empresas na vida pública através do seu poder financeiro e pela sua procura cega do lucro. É uma narrativa muito específica dos EUA, mas é fácil ver como a crítica feita a esse poder e a essa “ética do lucro” pode aplicar-se a outras situações. Basta lembrar o coro de promessas sobre regulamentação e punição dos culpados e… quando rebentou a crise brutal em que nos vamos afundando, e a forma como, pouco tempo depois, tudo continua na mesma, com os mesmos actores a fazer a mesma coisa de sempre – lucrar a qualquer preço (via Graham Attwell).

04
Jan
11

Perpetuum Jazzile – Africa

Do melhor que vi partilhado nesta quadra, que é sempre fértil em coisas boas (via o blog da Ana Amélia Carvalho).

Nem é tanto a música dos Toto (cuja letra é aqui parodiada por Steve Almond, com muita graça, acrescente-se), é mais a execução a cappella, que é extraordinária, sobretudo a parte inicial.

22
Abr
10

Guilty as charged

Diz o Daniel Oliveira num post intitulado “A minha escola” :

Todos temos uma reforma da educação na cabeça e com ela uma escola ideal. Aquela onde gostaríamos de ter estudado. Os professores ficam doentes com esta especialização democrática. É o preço que pagam por terem escolhido trabalhar numa área que nos diz respeito a todos.

Não é o melhor começo, pelo menos para professores, escaldados que estamos com tanta generalização abusiva e comentaristas iluminados, mas vale a pena ler o resto porque é uma boa reflexão sobre a escola. Aliás, nisso o Daniel nunca desilude: pode nem sempre concordar-se com as ideias, mas são sempre estimulantes e convictas.

Eu, pela parte que me toca, até gostaria de ver a participação das pessoas nas escolas aumentada em 1000%, seja enquanto encarregados de educação, membros activos da comunidade ou voluntários para tarefas de que a escola carece. A fazer coisas. A contribuir para melhorar as coisas. A colaborar para tornar a escola melhor. Confesso-me pecador, porque fico de facto doente com a imensidão de treinadores de bancada que falam, falam… na maior parte dos casos à toa, dizendo os maiores disparates com a maior presunção. Como os que querem resolver os problemas da escola de hoje regressando à escola do passado. Fosse a vida uma ficção, e o castigo justo seria terem que voltar a essa escola e andar por lá uns anos, a ver o que era assim tão bom. Ou os seus antípodas, que olham para os problemas com lentes cor de rosa e acham que tudo se resolve com muita conversa fiada e que os meninos coitadinhos. Para esses, bastaria um banho de realidade (um ano a dar aulas numa escola complicada, por exemplo) para transformar anjinhos em demónios insuportáveis.

Também gostaria de ver uma escola aberta às pessoas. Não sendo hipocondríaco, também fico doente com uma escola feita de muros, em que os pais são geralmente mal recebidos, e a que só são chamados, na maior parte das vezes, para lhes dizerem que os filhos se portaram mal. A segurança e o controlo de entradas e saídas são fundamentais, certamente, mas fora esse escrutínio zeloso e competente, as pessoas que têm uma relação com a escola deviam sentir-se bem vindas e ter oportunidades de participar na sua vida de formas produtivas. E tanto quanto sei, este não é o caso na maioria das escolas.

A escola ideal que o Daniel Oliveira refere é um bom modelo de escola. E difícil de concretizar, sobretudo nas escolas públicas que, como o próprio aponta, não podem utilizar os mecanismos de selecção e de intervenção de que dispõem a escolas privadas. Mais a mais se a profissão docente e as circunstâncias em que ela se desenvolve são tão maltratadas como têm sido.

Há muita coisa a mudar na escola, desde aspectos organizacionais e curriculares, a outros mais de natureza cultural e identitária. La Palissimamente dizendo, estamos a formar cidadãos do século XXI usando um modelo organizacional de escola que não se alterou significativamente desde o século XIX. Mas também há muita coisa a mudar na forma como um número considerável de pessoas olha para a escola, na importância que lhe atribui, na disponibilidade que tem para assumir a sua quota parte de responsabilidade na educação dos seus filhos e, quando é caso disso, para colaborar com a escola numa missão que deve ser comum. Porque, em boa verdade, o que muita gente faz é mandar bocas e juntar-se ao bota abaixo mas, quando chega a hora de fazer alguma coisa, assobia para o ar e tem sempre mais que fazer.

21
Dez
09

Bem dito

Um post do Pedro Neto que vale muito a pena ler. Também é sobre a essência de ser professor, mas é sobretudo sobre a essência de ser humano.

30
Out
09

Este é o meu futuro

Dos 18 aos 36 anos vou ser futebolista;

Dos 36 aos 55 anos vou ser astronauta;

Dos 55 aos 65 anos vou ser cientista;

Dos 65 até à reforma vou ser professor.

Este é o meu futuro.

E se as coisas fossem mesmo assim tão claras como na cabeça de um rapazito de 9 anos?

01
Out
09

Números ordinais, penteados, civismo e estereótipos

É frequente falar-se de como alguns princípios teóricos correctos e muito recomendáveis em educação podem ser mal aplicados, resultando daí que, em vez de promoverem os benefícios que se espera na aprendizagem, acabem por produzir exactamente o efeito contrário, ou seja, dificultam em vez de facilitarem.

Ontem tive um exemplo prático (e cómico) deste problema. Não costumo ajudar o meu filho, agora no 4º ano, a fazer os trabalhos de casa, porque ele não tem precisado, mas desta vez ouvi um “Ó Pai, anda cá que eu preciso da tua ajuda” que revelava perplexidade. Lá fui. O trabalho era responder a umas perguntas sobre números ordinais, nada de muito complexo. Na página da esquerda os ditos, na da direita a situação-problema a partir da qual deviam ser feitos os exercícios. Em teoria, tudo estava feito segundo princípios didácticos correctos, e com os quais concordo – contextualizar a tarefa num universo próximo do aluno, procurar situá-la num contexto verosímil, dar um sentido prático ao problema apresentado, etc., de modo a evitar a aprendizagem mecânica e a promover uma aprendizagem significativa. Na prática, contudo, as coisas resultavam diferentes.

A situação problema era a seguinte: uma escola vai levar os seus alunos a uma visita de estudo. 24 estão já dentro do veículo que vai transportá-los, e cá fora há uma fila à espera de entrar. Olhando para a imagem, vê-se um avião na pista e uma fila de alunos e alguns professores junto ao mesmo. Lá se foi a verosimilhança, de mais do que uma maneira. Depois, as perguntas: “em que lugar está a menina de verde?” “Em que lugar está o 1º adulto”, etc. Até aqui tudo bem.

Depois vinham as difíceis: “em que lugar está a última menina de tranças?” Mmm…, só consigo ver uma, filho. Ó pai, é esta. Não, filho, essa tem um rabo de cavalo, não é uma trança. Então é esta aqui. Não filho, essa tem puxinhos. Puxinhos, pai, o que é isso? Lá expliquei. Mas ó pai, se dizem “a última menina que tem tranças” é porque há mais do que uma. Tens razão, é bem pensado. Mas só uma é que tem tranças. O que é que fazemos? Olha, vou pôr a dos puchinhos, que é o mais parecido, e logo se vê. Ok.

Próxima pergunta: “em que lugar está o menino na cadeira de rodas?” Ó pai, isto não está bem. Porquê, filho? Qual é o problema? Então, se o menino está numa cadeira de rodas deviam tê-lo deixado entrar primeiro, não era porem-no ali na fila à espera. Não achas? Acho filho, também me parece que teria sido o mais correcto.

E ainda: “o aluno em trigésimo quinto lugar é um menino ou uma menina?” Ó pai, o que é que achas? Eu sei que é este, mas não consigo perceber se é menino ou menina. Mmm… deixa ver. Tem calças, será um menino? Isso não quer dizer nada pai, há aqui uns que se vê bem que são meninas e têm calças. Pois… o que te parece? Bem, pai, tem o cabelo um bocado comprido e a cara redonda, pode ser uma menina, mas por outro lado tem assim um corpo que parece mais um rapaz. O que é que eu ponho? Olha, põe rapaz e depois perguntas à professora o que é que ela acha.

Bem, em vez dos números ordinais propriamente ditos, coisa que não suscitava quaisquer dificuldades, passámos o tempo a falar de maneiras de apanhar o cabelo, da consideração especial que se deve ter para com as pessoas com deficiência ou em situação de fragilidade física, e dos esterótipos associados a rapazes e raparigas. Não devia ser preciso tanta substância sociocultural para um simples exercício com números ordinais. Ainda por cima, quando por via disso várias perguntas não tinham um resposta claramente correcta.

21
Jul
09

As boas famílias

Este foi o estado lastimoso em que ficou o parque onde o Afonso brinca de vez em quando. Passámos lá há uns dias e deparámo-nos com isto. Pensei, na altura, que uns tipos com os copos se tinham divertido desta maneira estúpida. Mas afinal, não deixando de ser uma estupidez, foi até pior do que eu pensava. Soube hoje que isto foi obra de um grupo de putos entre os 12 e os 14 anos, moradores aqui na zona da Avenida de Roma, que os pais deixam andar a passear à noite na rua. Parece que ja são conhecidos por fazerem outras coisas engraçadas como andarem por cima dos carros a amolgarem-nos todos. Tudo filhos de boas famílias, segundo os cânones habituais. WTF?!

10
Jul
09

Leituras

Apesar do ainda muito trabalho, já vai dando para ler alguma coisa. Bela surpresa “A Pianista”, de Elfriede Jelinek (Edições ASA). Não conhecia esta Nobel da Literatura em 2004 (o que não espanta, dada a imensidão de coisas mesmo muito relevantes que desconheço), mas este romance parece ser a corporização exacta das razões por que o prémio lhe foi atribuído:

for her musical flow of voices and counter-voices in novels and plays that with extraordinary linguistic zeal reveal the absurdity of society’s clichés and their subjugating power

sobretudo a parte que se refere ao “extraordinary linguistic zeal”, algo que a excelente tradução de Aires Graça verte num Português magnífico. Um prazer imenso para quem gosta de, para lá de personagens e peripécias, apreciar a língua num esplendor pouco comum. Se calhar este artigo do tradutor explica porque é que ele fez um trabalho que merecia, só por si, um prémio literário.

Tanta sorte não teve Tom Wolfe. Não sei se é um grande escritor ou não, sei que vende muito e é uma personalidade importante no meio jornalístico e literário americano, o que já é obra. Li dele a “Fogueira das Vaidades” e gostei muito, desta vez estou em inícios do badalado “Eu sou a Charlotte Simmons” (não sou eu, é ele), e a tradução é daquelas que nos dá vontade de bater no nome impresso onde diz: “Tradução de Maria João Delgado” até ver a formulação mudar para “Assassinado por” ou “Tornado irremediavelmente patético por”, etc. Às recentes expressões de “assassínio político” e “assassínio de personalidade” devia juntar-se outra, “assassínio literário”. Nem sei se a MJD é má tradutora ou não, talvez esteja apenas a navegar em águas desconhecidas, e nesse caso o seu pecado será o da inconsciência e o de uma ética profissional descontraída.

Tudo o que se relaciona com basquetebol – que na parte lida até agora tem aparição substancial – é inenarravelmente vertido em formato destrambelhado para Português. A MJD inventou um novo desporto, vagamente parecido com o existente, mas em que tudo o que é típico dele é formulado numa terminologia inventada pela tradutora que, como é evidente, também dá para rir às gargalhadas, porque nem todos os dias estamos para nos indignar. Como é que alguém pode pôr-se a traduzir terminologia de uma área que desconhece e, em vez de tentar informar-se, acha melhor ideia improvisar com a sua ignorância é algo difícil de compreender com um autor destes e uma editora destas.

A Caminho, que a editar coisas destas bem podia chamar-se “Descaminho”, sempre batia mais a bota com a perdigota, tem a obrigação de salvaguardar-se destes episódios, assegurando que quem traduz sabe minimamente o que faz, ou arranjando supervisão que não deixe isto acontecer. No mínimo, os leitores deviam poder levar o calhamaço à Caminho, bater com ele na cabeça do editor e receber o dinheiro de volta.

Para acabar bem, como comecei, uma última referência para Daniel Pennac e o seu “Mágoas da Escola“ (Porto Editora), o relato autobiográfico de um cábula para quem a escola foi, durante quase todo o tempo, um martírio, e acabou por encontrar o seu caminho e tornar-se um professor consciencioso e empenhado. Leitura imprescindível para quem queira compreender a escola, o ser aluno, sobretudo o ser professor, numa altura em que sobre estas questões somos inundados de inanidades a um ritmo insuportável.

20
Jun
09

Estas pessoas que se prestam a tudo

Quando Alexandre Ventura aceitou presidir ao CCAP depois do que se tinha aí passado antes dele, percebeu-se logo que pouco haveria a esperar de mais um destes exemplares pouco raros que por aí existem que se prestam a tudo em troco do que lá eles saberão.

Esta verdadeira pérola que encontrei n’A Educação do meu Umbigo, do Paulo Guinote, mostra à saciedade o entendimento que a personagem tem do que é a liberdade de informação, o valor do acesso a essa informação, o papel dos cidadãos numa sociedade democrática e o das instituições, CCAP incluída, no espaço público de diálogo. Vejam só:


Ao Alexandre Ventura, cabe dizer o óbvio: muita informação, de fontes diferentes, com perspectivas e convicções diferentes, é uma coisa boa. É assim que deve ser.

Em vez de currículos embelezados e cheios de referências e cargos e responsabilidades e tal, as pessoas como o Alexandre Ventura deviam apresentar uma versão mais simples de si próprios, e que nos diz bem mais daquilo que são e daquilo que pensam: estas pérolas que vão produzindo nos sítios que, por razões que eles lá sabem, se prestam a fazer as coisas que eles lá sabem.




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